sábado, 17 de março de 2012

O ópio do povo


O problema religioso

Mao dizia que a religião é o ópio do povo.
Concordo em parte. Esse pensamento é o eco do século XVIII.
Mas o problema não é a religião. A experiência religiosa é essencial para o desenvolvimento da psique. Estude o Popol Vuh e Chilam Balam dos Maias, os Vedas Hindus, Baghavad Ghita, o Kojiki japonês, os Evangelhos Apócrifos de Judas, Felipe e Madalena, a Kabala Judaica, o I Ching, a Epopéia de Gilgamesh, entre outros, e garanto que você enxergará o que está buscando.
Concordo que estudar somente a Bíblia Hebraica é um atraso cultural. É uma forma de congelar o cérebro. Nesse sentido, a Bíblia parece um câncer cultural.
De fato o problema são as pessoas, com suas mentes limitadas, emoções não desenvolvidas e lá no âmago, o ego, naturalmente desastroso e destruidor. As pessoas, ainda verdes, possuem o toque de Midas ao inverso. Causam estrago por onde passam, na religião, política, arte, medicina, música, ciência, etc.
A política é função extraordinária de desenvolvimento, embasada na moralidade e honra. Mas alguns políticos são almas podres.
A medicina é a Deusa da Vida em ação. Alguns médicos deveriam ser extirpados como um tumor.
A ciência é a garantia de evolução da civilização. Um cientista criou a bomba atômica.
A religião é o caminho para a espiritualização e o estandarte da Verdade. Alguns religiosos são os promotores da escravidão psíquica e a fraude dos fiéis.
A má atuação das pessoas é o que mais se destaca, propagando-se rapidamente.
Mas como Hegel disserta, a religião é o ópio que a inconsciência humana precisa para suportar sua escuridão e seguir andando.

Ópio do povo

A comparação da religião com o ópio não é original de Marx e já tinha aparecido, por exemplo, em escritos de Immanuel Kant, Herder, Ludwig Feuerbach, Bruno Bauer, Moses Hess e Heinrich Heine. Este último, em 1840, no seu ensaio sobre Ludwig Börne escreveu:
Bendita seja uma religião, que derrama no amargo cálice da humanidade sofredora algumas doces e soporíferas gotas de ópio espiritual, algumas gotas de amor, fé e esperança.
Moses Hess, num ensaio publicado na Suíça em 1843, também utilizou a mesma idéia: A religião pode fazer suportável [...] a infeliz consciência de servidão... de igual forma o ópio é de boa ajuda em angustiantes doenças.

Contexto original

A frase está na Crítica da filosofia do direito de Hegel, obra escrita em 1843 e publicada em 1844 no jornal Deutsch-Französischen Jahrbücher, que Marx editava com Arnold Roge. Seu contexto imediato é o seguinte:
"É este o fundamento da crítica irreligiosa: o homem faz a religião, a religião não faz o homem. E a religião é de fato a autoconsciência e o sentimento de si do homem, que ou não se encontrou ainda ou voltou a se perder. Mas o Homem não é um ser abstrato, acocorado fora do mundo. O homem é o mundo do homem, o Estado, a sociedade. Este Estado e esta sociedade produzem a religião, uma consciência invertida do mundo, porque eles são um mundo invertido. A religião é a teoria geral deste mundo, o seu resumo enciclopédico, a sua lógica em forma popular, o seu point d'honneur espiritualista, o seu entusiasmo, a sua sanção moral, o seu complemento solene, a sua base geral de consolação e de justificação. É a realização fantástica da essência humana, porque a essência humana não possui verdadeira realidade. Por conseguinte, a luta contra a religião é, indiretamente, a luta contra aquele mundo cujo aroma espiritual é a religião.
A miséria religiosa constitui ao mesmo tempo a expressão da miséria real e o protesto contra a miséria real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o ânimo de um mundo sem coração e a alma de situações sem alma. A religião é o ópio do povo.
A abolição da religião enquanto felicidade ilusória dos homens é a exigência da sua felicidade real. O apelo para que abandonem as ilusões a respeito da sua condição é o apelo para abandonarem uma condição que precisa de ilusões. A crítica da religião é, pois, o germe da crítica do vale de lágrimas, do qual a religião é a auréola.
A crítica arrancou as flores imaginárias dos grilhões, não para que o homem os suporte sem fantasias ou consolo, mas para que lance fora os grilhões e a flor viva brote. A crítica da religião liberta o homem da ilusão, de modo que pense, atue e configure a sua realidade como homem que perdeu as ilusões e reconquistou a razão, a fim de que ele gire em torno de si mesmo e, assim, em volta do seu verdadeiro sol. A religião é apenas o sol ilusório que gira em volta do homem enquanto ele não circula em tomo de si mesmo.
Conseqüentemente, a tarefa da história, depois que o outro mundo da verdade se desvaneceu, é estabelecer a verdade deste mundo. A tarefa imediata da filosofia, que está a serviço da história, é desmascarar a auto-alienação humana nas suas formas não sagradas, agora que ela foi desmascarada na sua forma sagrada. A crítica do céu transforma-se deste modo em crítica da terra, a crítica da religião em crítica do direito, e a crítica da teologia em crítica da política."
Citações.

Editado em 17.03.2012.
Atualizado em 10.04.2013.
Atualizado em 24.03.2018.

Crítica da filosofia do direito de Hegel; São Paulo: Boitempo Editorial, 2005, páginas 146/147. 

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