domingo, 15 de dezembro de 2013

Morrer é...

O que é a morte?

O desfuncionamento vital.
A defunção.
"É o ovo e o fim do ovo", segundo a Lispector.
Não sei, segundo a Maria Eloah.
Encontrar o Jean Valjean, segundo a Cibele.
Voltar para casa.
Voltar à origem.
Voltar a ser solteiro.
Atingir a outra margem.
A liberdade.
Atravessar o vazio até a plenitude.
Não comer mais.
Não ter que trabalhar mais no dia seguinte.
Não se preocupar mais.
Não ouvir mais piadas infames.
Não ouvir mais besteiras.
Interromper a jornada.
Descontinuar o aprendizado.
Redistribuir o corpo para os microorganismos.
Uma desconstrução bioquímica.
É o preto e o branco no vazio.
Pausa e tomada de fôlego para um novo recomeço.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

O Amor é uma Dor



"Um poeminha pra você. inspiração vinda direta do salão (de beleza)."
Mayana Simões




Não é a mais bela do seu jardim
não é exótica como orquídeas
não é lírio com seus odores
não é rosa, rainha das flores

Mas as outras sempre vão
demasiado delicadas
ou belas demais para não serem podadas
vão enfeitar mesas da realeza
nauseando o ambiente de beleza.

Todas as outras, tão mais especiais,
mas pouco convictas
se vão com as formigas

Morrem intencionalmente
para nascer em outro jardim.
Enganam, fingem que sofrem.
Murcham e se contorcem.
Mas por dentro sorri!

Porém nem todas são assim,
fantasiadas de pétalas vermelhas.
Refiro-me às larvas de jardim.
Com voz hipnoticamente macia
recitam notas e poesia,
mas nenhuma de própria autoria.
Com olhares incandescentes
Sereias entorpecentes
Dissimuladas rosas cálidas
Perfumadas, mas ordinárias
Passionais e irracionais
Rainhas Mornas!!!

Se vão...
com choro nos olhos
riso no coração
Proserpinas essas são.

Mas ela fica
ela sempre fica
sem perfume
sem malícia
Ela fica!

Permanece
Enfrenta intempéries
com as raízes profundas
alimenta-se de prece.
Da terra absorve sabedoria
Por vezes grita, indigna-se.
Mas no fim ela fica!

Chora sozinha,
pois ao beija-flor pouco vale,
enquanto o tolo pássaro
desperdiça sua energia
com falsas rosas tíbias.

A terra secou, ninguém aguou
Mas ela ali ficou
e ela brotou
mesmo ferida pelas pragas
ela brotou
e mais forte se tornou!

Não é a mais bela
nem a mais perfumada
mas seu pólen é nutritivo
seu néctar puro e exclusivo.

Ela fica!!!
Não por não ter onde ir
mas por ter os motivos mais justos.
Porque não vive só de aparências
Vive mesmo é de Thelema.

Beija-flor amigo,
Se sou digna de um conselho
escute o que digo:
Mais vale uma simples flor sem odores
mas de verdadeiros valores
que uma bela rosa de plástico
de enganosos espinhos
a todos acessível
e com aroma artificial
de corante sintético
com doce olhar de ressaca patético.

sábado, 21 de setembro de 2013

Se eu morresse amanhã

Se eu morresse amanhã...
Pasárgada não conheceria.
Mais amor não desenvolveria.
Para os filhos a idolatria.
As filhas emocionaria.
À esposa magoaria.
Porque ir antes de mim ela queria.

Se eu morresse amanhã...
Dos amigos eu pediria
No velório uma última companhia.
Brindes como se estivéssemos na tequilaria
Sem receios de expressar alegria
Cientes de que na próxima estação os esperaria.

Se eu morresse amanhã...
Minha fortuna para trás deixaria
Mas minhas dívidas também compartilharia.
Entre tantos, o gerente do banco mais se ressentiria
Pois o meu sangue ele não mais teria.

Se eu morresse amanhã...
Uma carta hoje escreveria
De um momento de lucidez a fotografia.
Sem traumas ou saudades deste mundo eu partiria.
Como bom artista inacabada esta obra deixaria
Porque sei que se de mil anos dispusesse
A perfeição nunca alcançaria.

Se eu morresse amanhã...
Muitos companheiros de jornada reencontraria.
E muitos outros aqui deixaria.
E essa marcha da vida assim continuaria
Independente se nós morrêssemos de tristeza ou de alegria.

Daniel.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Mel

 

Quero extrair o mel da sua flor
e através do êxtase do nosso furor
alimentar mais que o meu calor
fazer o frio esmaecer
a escuridão desvanecer
o sono da consciência enfraquecer
a memória do espírito esclarecer
desintegrando este torpor
curando dos corpos a causa da dor
estimulando a vontade para seu árduo labor
como meio de vida a elaboração do amor
no laboratório da secreta alquimia
polindo pacientemente a opaca Sophia
consolidando com o melhor cimento
os frutos do auto-conhecimento.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Entre Tigres e Bodes

Caminhando por entre Tigres.
Tigres e Tigresas.
Tigresas e seus filhotes.
Tigres novos.
Tigres velhos.
Tigres grisalhos.
Tigres bebês.
Tigres que se crêem bodes.
Tigres que querem ser como os bodes.
Tigres que não sabem que não são cabrios.
E me vi como o Daniel, caminhando por entre Tigres vestidos de Bodes fingindo-se Leões.
Mas ainda não acordei. 


quarta-feira, 15 de maio de 2013

Vida, Morte e Fisiologia



"É difícil de acreditar, mas os organismos vivos não estão em equilíbrio com o meio. Somente a morte e a decomposição restabelecem o equilíbrio.

Durante o nosso crescimento e desenvolvimento a energia dos alimentos é empregada na construção de moléculas complexas e na concentração de íons e substâncias no interior de nossas células. Essas substâncias complexas não estão disponibilizadas em abundância na natureza. Obtê-las e armazená-las é tarefa difícil e dispendiosa. E além disso, é necessário que nós matemos alguma forma viva. 

Não fazemos fotossíntese!

Quando o organismo morre, ele perde a capacidade de obter energia a partir dos alimentos. Sem energia no interior das células, elas não podem mais manter gradientes de  concentração e, assim, os íons e substâncias retornam ao ambiente. 

Viver é lutar contra o retorno, tentamos com todas as forças reter em nós algo que não nos pertence. 

Tomar emprestado foi concedido pela natureza e, mais cedo ou mais tarde, teremos que devolver.

Morrer é então restabelecer o equilíbrio. É devolver uma concessão temporária. Permitindo que outro organismo nasça e desequilibre, e morra mais uma vez para voltar a equilibrar.

Logo, é fácil entender porque morremos.

Morremos para outro poder viver!

Não somos fim, somos apenas meio!"

Fonte: Blog do Dr. Daniel César. http://www.drdanielcesar.com.br/2008/09/vida-e-morte.html

sábado, 4 de maio de 2013

Plexo com Nexo


É bom e normal.
Tudo muito natural.
Por vezes Animal.
Quase sempre Tântrico.
Intenso e Cósmico.
Algo Ilógico.
Mais que Fisiológico.
Fogo da Paixão
que dispara o Coração.
Interna Revolução.
Para o corpo ultra-sensação.
Para a alma alimentação.
Do espírito a preparação.
Integração do Plexo.
Vê no outro seu reflexo.
Sem complexo.
Nem sempre entende o nexo.
Em nada paradoxo.
Aceita ser ortodoxo.
Consome-se a Catexia
através do clímax da Secreta Filosofia
Até que se liberta o mestre de Sabedoria.

Daniel.


(*) Foto do artista e ilustrador James R. Eads. (Pinterest).
Atualizado em 24.03.2018.

Tomando banho


Tenho inspiração sem tamanho
no momento que tomo banho

E antes de tudo esquecer
procuro um papel para escrever

É uma ótima terapia
para se recuperar a energia

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Poesia que acalma


Poesia que acalma
Sinfonia da alma
Prometa mais que uma publicação casual
Acompanhando o ritmo mensual
Quando se eleva a libido
E se fica um pouco mais desinibido.
Prometa ainda não anular o encanto,
para não amedrontar o santo.
Mais animaria entretanto
de participar inteligente e agradável espanto
transbordando ousadas heresias
e mutando-as em doces e simbólicas poesias.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Acordei de um sonho


Acordarás de um longo torpor.
Emergirás das profundezas do pântano de si mesmo.
Receberás novamente a pureza do ar, a orientação das luzes, a força do sol.
Voltarás do coma da alma.
Começarás a fisioterapia da inteligência atrofiada.



Quando os olhos abrirem verás que o suposto templo é uma caverna, os ídolos são fantoches e as verdades apenas contos de fadas.
Primeira fase encerrada.
Mãos à Obra!


domingo, 24 de fevereiro de 2013

Sobre a Liberdade


E um orador disse, Fala-nos da Liberdade.
E ele respondeu:

Às portas da cidade e junto à lareira já vos vi prostrados a venerarem a vossa própria liberdade.
Tal como os escravos se curvam perante um tirano e o louvam enquanto ele os açoita.
Ah, no bosque do templo e à sombra da cidadela já vi os mais livres de entre vós usarem a liberdade como grilhetas.
E o meu coração sangrou por dentro; pois só se pode ser livre quando o desejo de encontrar a liberdade se tornar a vossa torta e quando deixardes de falar de liberdade como objectivo e plenitude.
Sereis verdadeiramente livres não quando os vossos dias não tiverem uma preocupação nem as vossas noites necessidades ou mágoas.
Mas quando estas coisas rodearem a vossa vida e vós vos ergais acima delas, despidos e libertos.
E como vos podereis erguer para lá dos dias e das noites a menos que quebreis as cadeias que, na aurora do vosso conhecimento, apertastes à volta do entardecer?
Na verdade, aquilo a que chamais liberdade é a mais forte dessas cadeias, embora os seus aros brilhem à luz do sol e vos ofusquem a vista.
E o que é isso senão fragmentos do vosso próprio ser de que vos libertareis para vos tornardes livres?
Se se trata apenas de uma lei injusta que ireis abolir, essa lei foi escrita com a vossa mão apoiada na vossa fronte.
Não podereis apagá-la queimando os livros das leis, ou lavando as frontes dos vossos juizes, embora despejeis o mar sobre eles.
E se é um déspota que ireis destronar, certificai-vos primeiro de que o trono erigido dentro de vós também é destruído.
Pois como pode um tirano mandar sobre os livres e os orgulhosos, senão exercendo a tirania sobre a liberdade deles e sufocando-lhes o orgulho?
E se se trata de uma preocupação que quereis fazer desaparecer, essa preocupação foi escolhida por vós e não imposta.
E se é um receio que quereis afastar, a origem desse receio reside no vosso coração e não na mão daquele que receais.
Na verdade, todas as coisas se movem dentro do vosso próprio ser em constante meia união, o desejado e o receado, o repugnante e o atraente, o perseguido e o de quem quereis escapar.
Estas coisas movem-se dentro de vós como luzes e sombras, aos pares, agarradas.
E quando a sombra se desvanece e deixa de ser, a luz que resta torna-se sombra para uma nova luz.
Por isso, a vossa liberdade quando perde as cadeias torna-se ela própria uma cadeia de maior liberdade.

Gibran Khalil Gibran

Sobre o Crime e o Castigo


Então, um dos juízes da cidade avançou e disse, Fala-nos do Crime e do Castigo.
E ele respondeu, dizendo:

É quando o vosso espírito vagueia pelo vento que vós, solitários e indefesos, fazeis mal aos outros e também a vós mesmos.
E pelo mal que fazeis devereis bater à porta dos abençoados e esperar.
O vosso eu interior é como o oceano; Permanece para sempre imaculado.
E, tal como o etéreo, só ergue os seres alados.
O vosso eu interior é como o sol; Não conhece os esconderijos da toupeira nem procura as tocas da serpente.
Mas o vosso eu interior não habita sozinho dentro de vós.
Muito em vós ainda é humano, e muito não o é.
Mas um pigmeu disforme que caminha sonâmbulo no nevoeiro à procura do seu próprio despertar.
E é do homem em vós que agora irei falar.
Pois é ele e não o vosso eu interior, nem o pigmeu no nevoeiro que conhece o crime e o castigo do crime.
Muitas vezes vos ouvi falar daquele que comete um crime como se não fosse um de vós mas um intruso no vosso mundo.
Mas digo-vos que, tal como os santos e os justos não se podem erguer mais alto do que o mais alto que existe em cada um de vós, também os maus e os fracos não podem cair mais baixo do que o mais baixo que existe em vós.
E tal como uma simples folha só amarelece em conjunto com toda a árvore, Também aquele que comete um crime não o pode fazer sem a anuência secreta de todos vós.
Como numa procissão, caminhais juntos em direcção ao vosso eu interior.
Vós sois o caminho e os caminhante e quando um de vós cai, cai por aqueles que vêm atrás, para os avisar da pedra que encontraram no caminho.
E cai por aqueles que vão à sua frente, que, embora mais rápidos e seguros, não estão livres de tropeçarem na mesma pedra.
E notai que, embora a palavra vos pese no coração: O assassinado não está isento de responsabilidade pelo seu próprio assassínio, e o roubado não está isento de culpas por o ter sido.
O justo não está inocente dos feitos do malvado, e o que tem as mãos limpas não está limpo dos actos do culpado.
Sim, o culpado é por vezes vítima do ofendido.
E ainda mais vezes é o portador do fardo dos inocentes e rectos.
Não podeis separar o justo do injusto e o bom do mau;
Pois eles andam juntos ante a luz do sol, tal como juntos são tecidos os fios brancos e negros
E quando o fio negro quebra, o tecelão examina todo o tecido e também todo o tear.
Se algum de vós trouxer a julgamento a mulher infiel, que também pese o coração do marido e meça a sua alma.
E que aquele que quiser flagelar o ofensor olhe para o espírito do ofendido.
E se algum dá vós punir em nome do que é justo e cortar com o machado a árvore do mal, deixe então que se vejam as raízes;
E encontrará as raízes do bom e do mau, do que dá frutos e do que não dá, entrelaçadas no coração silencioso da terra.
E vós, juizes, que quereis ser justos, que condenação ireis dar àquele que, embora honesto de corpo, é um ladrão de espírito?
Que castigo ireis dar àquele que flagela a carne e também flagela o espírito?
Como procedereis com aquele que nos seus actos é falso e opressor, mas que, no entanto, é também enganado e oprimido?
E como ireis punir aqueles cujos remorsos são maiores do que os crimes que cometeram?
Não será o remorso a justiça que é administrada pela própria lei que quereis servir?
No entanto, não podereis impor o remorso ao inocente, nem arrancá-lo do coração do culpado.
Subitamente, à noite, ele convocará os homens para que olhem para si próprios.
E vós, que deveis entender a justiça, como o podereis fazer a menos que olheis para os factos à plena luz?
Só assim sabereis que o erecto e o caído são um único homem no crepúsculo entre a noite da sua pequenez e o dia da sua espiritualidade, e que a pedra mãe do templo não é mais alta que a mais funda pedra dos seus alicerces.


Gibran Khalil Gibran. O Profeta.