terça-feira, 17 de maio de 2011

Louvor ao Dharmadhatu

Louvor ao Dharmadhatu - de Nagarjuna

[1] Há algo que, enquanto for deixado no desconhecimento,
Resulta nos três planos do círculo vicioso desta vida.
Além de toda dúvida, ele permanece em cada ser.
Ao dharmadhatu [o espaço dos fenômenos], eu devotadamente me curvo.

[2] Quando aquilo que forma a causa para todo o samsara
É purificado ao longo dos estágios do caminho,
Esta pureza em si é o nirvana;
Precisamente isto, o dharmakaya, também [é o nirvana].

[3] Assim como a manteiga que, apesar de inerente no leite,
Está misturada com ele e, portanto, não aparece,
Assim também o dharmadhatu não é visto
Enquanto estiver misturado com as aflições.

[4] E assim como a essência inerente da manteiga que,
Quando o leite é purificado, não fica mais oculta,
Quando as aflições forem completamente purificadas,
O dharmadhatu estará sem qualquer mácula.

[5] Assim como uma lamparina de manteiga que queima dentro de um vaso
Não seria nem um pouco visível,
Enquanto for deixada dentro do vaso das aflições,
O dharmadhatu não será visível.

[6] Se alguém perfura a superfície do vaso,
Quaisquer furos que sejam feitos em quaisquer direções —
Através deles e precisamente nessas direções
A luz brilhará, conforme é a sua natureza.

[7] No momento em que o samadhi que é como o vajra
For capaz de obliterar o vaso,
Nesse mesmo momento a luz queimando dentro do vaso
Irradiará através dos alcances de todo o espaço.

[8] O dharmadhatu nunca nasceu
Nem nunca cessará.
Em todos os tempos, é livre de todas as aflições;
No início, no meio e no fim, [o dharmadhatu é] livre da mácula.

[9] Assim como a safira, a jóia preciosa,
Que irradia com luz brilhante todo o tempo
Mas, quando confinada dentro de uma pedra mais grossa,
Não vemos sua luz brilhante irradiar,

[10] Assim também, apesar de obscurecido atrás das aflições,
O dharmadhatu não tem rastro de falha.
Enquanto o samsara bloqueia sua luz, ele não ilumina;
[Com o] nirvana obtido, sua luz irradiará brilhantemente.

[11] Se o elemento fundamental estiver presente,
O trabalho produzirá a visão do ouro mais puro;
Se o elemento fundamental estiver ausente,
O trabalho não produziria
[qualquer] fruto além de infortúnio.

[12] Assim como os grãos não são considerados como sendo arroz
Enquanto estiverem envolidos em suas cascas,
Assim também o nome "buddha" não é dado
A todos aqueles cujas aflições ainda os envolvem.

[13] E assim como, quando livre da casca,
O arroz em si é o que aparece,
Assim também o dharmakaya em si,
Quando livre das aflições, irradia livremente.

[14] É dito que "As bananeiras são vazias de medula".
Usa-se este exemplo no mundo.
Porém, o fruto dessa árvore tem medula;
Quando comido, é doce para a língua.

[15] Assim também, o samsara não tem medula
E se os seres puderem remover a casca da aflição,
O fruto interior é o estado búddhico em si,
O néctar para todos os seres corpóreos saborearem.

[16] E assim como de um certo tipo de semente
Um fruto resulta semelhante à sua causa,
Quem, com sentido comum, procuraria provar
Que um fruto existe sem sua semente específica como causa?

[17] O elemento básico que serve como semente
É visto como o suporte para todas as grandes qualidades.
Através do refinamento gradual, passo a passo,
O estágio do estado búddhico será atingido.

[18] Apesar de o sol e a lua serem imaculados,
Existem cinco véus que podem obscurecê-los.
Estes consistem de nuvens, neblina e fumaça,
A face de Rahu [eclipse] e a poeira também.

[19] E assim é, também, para a clara luz da mente.
Cinco obscurecimentos podem obscurecê-la:
Desejo, preguiça, má intenção
E agitação também, assim como a dúvida.

[20] E assim como o fogo pode limpar um tecido sujo
Manchado com várias marcas e máculas,
E assim como, ao ser submergido dentro do fogo,
As marcas são queimadas mas não o tecido,

[21] Do mesmo modo a mente, que é claridade radiante,
É suja pelo desejo e por outras máculas,
Mas o fogo do estado desperto primordial queima estas aflições
Sem, entretanto, queimar a claridade radiante.

[22] Nos sutras do professor [Buddha Shakyamuni],
De quaisquer modos que o vitorioso descrevesse a vacuidade,
Todos estes modos podem retificar as aflições;
Nenhum pode diminuir o potencial.

[23] Assim como a água nas profundezas da terra
Repousa intocada e perfeitamente clara,
Assim também o estado desperto primordial pode descansar dentro da aflição
E permanecer completamente livre de qualquer falha.

[24] O dharmadhatu não é o "eu",
Não é homem nem mulher;
E estando além de tudo perceptível,
Então como poderia ser pensando como sendo si mesmo?

[25] Dentro dos fenômenos, todos livres da paixão,
Masculino e feminino não podem ser vistos.
A fim de domar aqueles cegados pelo desejo,
Termos como "masculino" e "feminino" são ensinados.

[26] "Impermanente", "sofrimento" e "vazio":
Três designações purificando a mente;
Mas o que transforma a mente até o seu máximo
É o ensinamento de que nada tem qualquer auto-natureza.

[27] Assim como um filho no ventre de uma mulher grávida
Está lá, mas ainda não é visível,
Do mesmo modo, quando coberto pelas aflições,
O dharmadhatu não é visível.

[28] Do pensar em "eu" e "meu"
E do pensar em nomes e bases para estes,
Quatro padrões conceituais [existência, não-existência, ambos, nenhum] vêm a ser, Devido aos elementos e aos compostos também.

[29] Os buddhas não percebem
Quaisquer características de suas preces de aspiração
Porque os buddhas são da natureza do auto-estado-desperto
E têm seu próprio ser permanentemente puro.

[30] Assim como os chifres sobre as cabeças de coelhos
Não existem, exceto na imaginação,
Os fenômenos são todos precisamente assim,
Meramente imaginados, não tendo existência [inerente].

[31] Como não são feitos de átomos sólidos,
Os chifres dos bois não podem ser vistos também.
Já que nem mesmo pequenos átomos existem,
Como se poderia imaginar que algo feito de átomos existe [inerentemente]?

[32] Já que o surgimento é uma ocorrência dependente
E a cessação é uma ocorrência dependente,
Não há uma única coisa que exista [inerentemente] —
Como poderiam os ingênuos acreditar que há?

[33] Usando exemplos como o dos chifres dos coelhos e dos bois,
O Tathagata [aquele que foi assim, o Buddha,] provou
Que todos os fenômenos são nada mais que o caminho do meio.

[34] Assim como alguém vê
As formas do sol, da lua e das estrelas
Refletidas nos vasos de água perfeitamente clara,
Assim é a consumação dos sinais e características.

[35] Aquilo que é virtuoso no início, no meio e no fim
Não é enganador e é marcado pela constância,
E é livre do "eu" deste mesmo modo.
Como isso poderia ser pensando como um "eu" ou "meu"?

[36] Assim como a água, durante o verão,
É dita como sendo algo quente,
E exatamente a mesma, durante a estação do inverno,
É dita como sendo algo frio,

[37] Aqueles pegos pela armadilha das aflições
São referidos pelo rótulo "seres sencientes";
Exatamente os mesmos, quando liberados dos estados aflitos,
São reverenciados como "buddhas".

[38] Quando olho e forma assumem sua relação correta,
As aparências aparecem sem um único borrão.
Já que estas nem surgem nem cessam,
Elas são o dharmadhatu, apesar de serem imaginadas como sendo outra coisa.

[39] Quando o som e o ouvido assumem sua relação correta,
Ocorre uma consciência livre de pensamento.
Estes três são em essência o dharmadhatu, livres de outras características,
Mas tornam-se o "ouvir" quando pensados conceitualmente.

[40] Dependente do nariz e de um odor, alguém cheira.
E assim como no exemplo da forma, não há nem surgimento nem cessação,
Mas em dependência da experiência da consciência olfativa,
É pensado que o dharmadhatu tem cheiro.

[41] A natureza da língua é a vacuidade.
A esfera do sabor é vacuidade também.
Elas são, em essência, o dharmadhatu,
E não são as causas da consciência gustativa.

[42] A essência do corpo puro,
As características do objeto tocado,
A consciência tátil livre de condições —
Estes são chamados de o dharmadhatu.

[43] Os fenômenos que aparecem à consciência mental, o chefe de todas elas,
São conceitualizados e então superimpostos.
Quando esta atividade é abandonada, a ausência de auto-essência dos fenômenos é conhecida.
Sabendo disto, medite sobre o dharmadhatu.

[44] E assim é tudo que é visto, ouvido ou cheirado,
Degustado, tocado ou imaginado,
Quando os yogis compreendem desta maneira,
Todas as suas qualidades maravilhosas são levadas à consumação.

[45] As portas da percepção nos olhos, ouvidos e nariz,
Na língua, no corpo e na porta mental —
Todos estes seis são completamente puros.
A pureza destas consciências é a característica definidora do tathata [talidade].

[46] Veja como a mente tem dois aspectos:
Pode ser mundana, pode transcender o mundo.
Do apego a um "eu", vem o samsara.
Quando há auto-estado-desperto, há tathata.

[47] A cessação do desejo é nirvana,
Assim como é o fim da estupidez e da raiva.
Pois o cessar destes é o estado búddhico em si,
O refúgio dos seres enobrecidos.

[48] Ou se procede com conhecimento ou se procede sem —
Tanto o samsara quanto o nirvana têm sua natureza no corpo.
Ou você é atado pelo seu próprio pensamento
Ou, se conhecer a natureza verdadeira, você é livre.

[49] A iluminação não está próxima nem distante.
Ela não vai nem vem até você.
Bem lá, dentro da gaiola de suas aflições,
Ou você a verá, ou não a verá.

[50] Permanecer na lamparina da sabedoria
Conduzirá à paz, a mais sublime que há;
Examinar por si é o modo de permanecer.
Isto é ensinado nos textos dos sutras.

[51] As forças, todas as dez, assistem o imaturo
Com uma força de bênção como aquela da lua cheia.
Mas enquanto estiverem presos nas aflições,
Os seres falharão em ver os Tathagatas.

[52] Assim como aqueles nos reinos dos fantasmas famintos
Vêem o mar diante de seus olhos como seco,
Assim também é com aqueles no domínio da ignorância,
Que pensam que os buddhas não existem.

[53] Para os seres inferiores e para aqueles com mérito inferior,
Não importa o que os conquistadores transcendentes façam —
É como colocar uma jóia preciosa
Nas mãos de alguém que nunca soube como ver [a preciosidade da jóia].

[54] Para os seres que acumularam mérito suficiente,
Os sinais são radiantes com luz brilhante.
Todas os trinta e dois [sinais] flamejam com glória brilhante —
Seres como estes permanecem na presença dos buddhas.

[55] Os protetores habitam formas de dimensão corpórea
Durante muitos éons e muitos ainda por vir;
Entretanto, a fim de domar os discípulos,
Eles demonstram diferentes atividades na expansão que doma.

[56] Ao definitivamente objetivar sua meta,
A consciência engaja-se em seu objeto;
Dentro da pureza do auto-estado-desperto,
Todos os estágios dos bodhisattvas permanecem inerentemente.

[57] A morada magnífica dos poderosos senhores,
O belo domínio de Akanishtha
E a consciência — estes três juntos
Podem ser misturados em um, ouso dizer.

[58] Para o imaturo, ele confere total conhecimento;
Para os nobres, dispõe variedade;
Para os poderosos deuses, concede longa vida —
É a causa para a longa marcha dos éons do tempo de vida.

[59] É o que guarda o reino externo dos seres
E preserva suas vidas também através de incontáveis éons;
É o que faz possível para a vida
Perseverar dentro de todos os seres vivos;

[60] A própria causa não conhece fim,
Os resultados dessa causa são infinitos também;
Quando a imperceptibilidade é realizada,
A sabedoria torna-se a condição para o alvorecer do nirvana.

[61] A iluminação não deve ser pensada como estando distante,
Nem deve ser considerada próxima à mão;
Quando os objetos, seis em tipo, não aparecem,
O genuíno é conhecido assim como é.

[62] Assim com leite e água misturados juntos
Estão presentes exatamente no mesmo recipiente,
Mas um grou beberia o leite e não a água,
O caso da transformação é como isto —

[63] Há o estado desperto primordial, há aflições que o cobrem,
Onde ambos são encontrados juntos no corpo.
Mas o estado desperto primordial é o que os yogis escolhem tomar
E deixam a ignorância para trás.

[64] Enquanto "eu" e "meu" forem considerados existentes,
O exterior é imaginado assim também;
Quando ambas as formas de não-eu [da personalidade e dos fenômenos] são vistas, A semente da existência é destruída;

[65] O dharmadhatu é a base
Para o estado búddhico, nirvana, pureza e permanência;
O imaturo imputa estes dois tipos de eu
E os yogis permanecem sem estes dois.

[66] Na generosidade suporta-se uma série de dificuldades,
E a ética reúne-se em benefício dos seres;
Através da paciência, realiza-se o bem para todos —
Estes três farão o potencial se desdobrar.

[67] Através da diligência em todos os ensinamentos
E da imersão da mente na concentração meditativa,
Através da confiança na sabedoria,
A iluminação vai crescer e florescer.

[68] A sabedoria dotada de meios hábeis,
As preces de aspiração que purificam,
A maestria da forças e, através disso, o conhecimento —
Estes quatro farão o potencial se desdobrar.

[69] "Não se comprometam à bodhichitta";
Há alguns que dizem essas palavras horríveis.
Mas se não houvesse bodhisattvas para se desenvolver,
O dharmakaya estaria fora de alcance.

[70] Alguém que joga fora a semente da cana-de-açúcar
Mas quer saborear a doçura que seu fruto produz
Não irá, sem a semente,
Ter qualquer açúcar.

[71] Quando alguém valoriza as sementes da cana-de-açúcar,
As mantém bem e trabalha para fazê-las crescer,
Um colheita do açúcar mais doce pode ser ceifada.
E assim como o que veio como isto,

[72] Valorizando a bodhichitta completamente,
Mantendo-a e trabalhando bem com ela,
Os arhats e pratyekabuddhas elevam-se
Assim como os buddhas perfeitamente iluminados.

[73] Assim como as sementes de arroz e de outras plantas
São tratadas pelo fazendeiro com grande cuidado,
Os aspirantes que desejam fazer a maior jornada
São tratados por seus guias com o maior cuidado.

[74] Assim como no décimo quarto do minguante,
A lua está pouco visível,
Para os aspirantes que desejam fazer a maior jornada
Os kayas estão apenas muito pouco visíveis.

[75] Assim como a lua, quando é nova,
Visivelmente cresce pouco a pouco,
Aqueles que alcançaram os estágios [do bodhisattva]
Vêem o dharmakaya mais e mais.

[76] Assim como no décimo quinto dia do crescente
A lua alcançou a completude e está cheia,
Assim também, para aqueles que alcançaram o ponto final dos estágios,
O dharmakaya irradia-se completo e claro.

[77] A bodhichitta perfeitamente engendrada
Através da dedicação estável e consistente
Ao Buddha, ao Dharma e à Sangha
Não diminui e se desenvolve mais e mais.

[78] Quando os quatro atos inferiores forem abandonados
E os quatro atos melhores forem abraçados,
Apenas então o tathata será definitivamente realizado —
Isto é o que "o alegre" completamente significa.

[79] "Os imaculados" são aqueles cujos padrões inconstantes marcam
Com as máculas constantes do desejo e do resto;
Quem quer que tenha crescido livre da falha é puro
E isto é o que "o imaculado" significa.

[80] Uma vez que a armadilha das aflições seja rasgada em pedaços,
Uma sabedoria perfeita irradia e com sua luz
Purifica toda escuridão passada em todos os limites,
Removendo-a, e por isso "ilumina".

[81] Ele brilha com luz que é sempre pura;
O estado desperto primordial, que elimina a diversão,
É imerso na luz que irradia em cada lado.
Este estágio é então conhecido como "radiante."

[82] Já que o estado desperto, os feitos e as destrezas são masterizados aqui,
A série de concentrações meditativas em si mesmas
E os venenos difíceis de purificar desapareceram completamente;
Então, "difícil de superar" é seu nome.

[83] Com a iluminação de todos os três tipos incluída
E tudo [estando] perfeito e completo,
Sem mais nascimento, desintegração terminada,
Este nível é "diretamente manifesto".

[84] Já que a teia de luz brilhante dos bodhisattvas com sua exibição
Alcança cada ponto em seus arredores,
E já que cruzaram o oceano pantanoso do samsara,
São chamados "aqueles que alcançam o distante."

[85] Definitivamente guiados pelos buddhas,
Em contato com o mar do estado desperto primordial,
Espontâneos e livres de qualquer esforço,
"Inabalados" pelos escalões dos demônios.

[86] Já que os yogis neste nível aperfeiçoaram
Os dialéticos usados para ensinar todos os pontos
Conectados com o estado desperto preciso e correto,
Isso toma o nome "inteligência seleta."

[87] O corpo neste ponto é feito de estado desperto primordial,
É igual a um céu não-poluído;
A vigilância disposta pelos buddhas
Forma a "nuvem do Dharma" em todos os lugares.

[88] A base das qualidades dos buddhas,
Os frutos de treinamento completamente seguro à mão,
A transformação, quando perfeitamente completada,
"Dharmakaya" é dado como seu nome.

[89] As tendências do samsara são ponderáveis,
A liberdade das tendências não é.
Você é completamente inconcebível.
Quem poderia ter o poder para conhecê-lo?

[90] Completamente além da estaca da fala
E não um agarramento dos poderes dos sentidos,
Realizá-lo leva o estado desperto da mente.
Curvo-me em louvor a tudo que você abraça.

[91] Os herdeiros ilustres dos buddhas,
Seguindo o caminho passo a passo,
Com o estado desperto primordial que atende a "nuvem do Dharma",
Podem ver a vacuidade, o modo puro do ser.

[92] Assim que a mente tenha sido completamente limpa,
Que o confinamento engaiolado do samsara tenho sido completamente quebrado,
Estes então assumirão seu lugar correto
Sobre um maravilhoso assento de flor de lótus,

[93] Completamente rodeados por todos os lados
Pelas flores de lótus, muitas dezenas de milhões,
Cada uma dotada com anteras tantálicas,
Suas folhas iluminadas com muitas jóias preciosas.

[94] Os buddhas com dez poderes são repletos.
Seu não-medo coloca as mentes dos outros em conforto.
Suas qualidades são inconcebíveis.
Do domínio da simplicidade, eles nunca caem.

[95] Praticando excelentemente todos os caminhos,
Eles reuniram mérito, acumularam sabedoria completa.
Então, eles são como a lua da colheita no alto [do céu],
Rodeada por sua corte, as estrelas agrupadas.

[96] Com uma mão como o sol,
O Buddha segura uma jóia perfeita com luz flamejante.
Com isto, o iluminado inicia os herdeiros mais seniores —
Esta iniciação, a maior de todos elas.

[97] Os poderosos yogis vivendo neste plano
Olham os seres mundanos com olhos semelhantes aos dos deuses,
Inferiores por causa da cegueira mental,
Cujo sofrimento pode amedrontar e distrair.

[98] E tendo os visto, raios de luz de seus corpos
Irradiam-se sem o menor esforço
E abrem quaisquer portões que houver para todos
Que vagam na escuridão de sua própria confusão.

[99] Aqueles que alcançaram o nirvana com resíduos
Acreditam que alcançaram o nirvana que é sem [resíduos];
O nirvana que é alcançado nesta tradição
É liberar a mente de qualquer falha.

[100] A essência dos seres sencientes, livre de substância,
É a esfera que é encontrada neste plano.
Ver isto é a bodhichitta real,
O dharmakaya livre de toda falha.

[101] Quando o dharmakaya é visto em toda a sua pureza,
Isto é transformação, o mar de sabedoria,
E de suas profundezas uma riqueza de jóias preciosas
Realiza as necessidades dos seres conforme sempre desejaram.

Em Louvor ao Dharmadhatu, composto pelo grande Acharya Nagarjuna, é aqui completado. Em cooperação com o khenpo indiano Krishna Pandita, ele foi traduzido [do sânscrito para o tibetano] por Lotsawa Tsültrim Gyalwa.