terça-feira, 15 de novembro de 2011

Os Dez impossíveis Mandamentos


Os dez impossíveis mandamentos

Quando se fala em 10 mandamentos da lei de Deus, vêm à mente, entre outras coisas, a figura do grande mestre Moisés.
Uma fatia considerável e fundamental do Antigo Testamento, primeira parte da Bíblia hebraica se refere à odisséia de Moisés e a libertação e organização do povo hebreu[1].
É preciso trazer à luz certos detalhes ocultos nas entrelinhas.
Ninguém sabe o nome de Moisés. Até mesmo porque não interessa. Moisés significa “o que foi salvo das águas”. É a descrição de um acontecimento. “Moisés” é um evento na vida da pessoa. Toda pessoa deve aprender a nadar e a se salvar de suas próprias águas genésicas.
O mestre histórico era hebreu, uma das sub-raças da atual raça. Mas foi criado pelos egípcios e se tornou um de seus príncipes. Portanto foi formado e educado na doutrina e mistérios egípcios.
Moisés, Príncipe do Egito, grande iniciado das Antigas Escolas de Mistério do Nilo.
Segundo a tradição egípcia, quando o iniciado desencarnava, devia prestar contas a Osiris diante do Tribunal da Justiça ou o Tribunal do Karma.
Devia receber veredicto positivo dos 42 juízes do karma, segundo o atributo de cada um. Portanto haviam 42 leis que deveriam ser observadas em vida para ser aprovado no momento do juízo. São conhecidas como as 42 leis da Justiça Divina.

Moisés aplicou essas 42 leis como regras de espiritualidade para o povo hebreu.
Porém, como ainda era um povo muito rude, não puderam assimilar os rigores dos mandamentos.
Moisés, por tolerância e como prova de amor ao seu povo, quebrou as tábuas da lei. Aplicou a devida disciplina e subiu novamente o Monte Sagrado para trazer uma versão simplificada das regras de espiritualização, os conhecidos 10 mandamentos do cristianismo.
Esse evento é simples de imaginar, aplicando-o aos tempos modernos. As pessoas são incapazes de vivenciar os dez preceitos da espiritualidade. São por demais rigorosos. Estas regras determinam um alto padrão de comportamento e disciplina. Uma atitude superior e espiritualizada em relação aos seres vivos, ante a sociedade, à comunidade e à família.
Dizer sempre a verdade é um grande desafio. Viver em função da verdade mesmo que doa não é para pessoas comuns e correntes.
Favorecer a vida, não matar por prazer ou esporte o vegetal, animal ou humano. Não ofender, não destruir ou atacar o ânimo ou o entusiasmo das pessoas. Etimologicamente, ânimo vem do latim anima, que significa alma, psiquê, intenção, vontade, vida.
Se o mundo em geral conseguisse absorver somente essas duas leis, que tipo de humanidade habitaria este planeta?
Se você e sua família respirassem naturalmente essas duas leis, que impacto teria na comunidade, no bairro ou sociedade?
As dez regras básicas conformam um primeiro grau de espiritualidade. Quando o iniciado absorve os dez princípios naturais, então percebe que há mais.
Percebe que a natureza está lançando situações diariamente nos diversos eventos da vida. Cabe à própria pessoa se auto-lapidar e fazer as escolhas certas, aplicar as palavras certas, tomar a atitude certa, sempre em função da espiritualidade.
Cada atitude, ação ou palavra produz um resultado. Isso é o karma. Ação e conseqüência.
Pode-se produzir conscientemente um karma positivo.
A fome, miséria e desgraça são karmas negativos. Foram produzidos em algum momento.
A humildade, o trabalho, o conhecimento, o respeito e a caridade podem anular o karma negativo da fome e miséria, promovendo outro karma, um karma oposto, desejado, positivo, que traz alimento, desenvolvimento e prosperidade.
As divindades egípcias são na maioria das vezes a representação arquetípica de forças que fluem na natureza humana.
As formas de animais servem para caracterizar os princípios que eles representam; e não que os egípcios idolatravam figuras antropozoomórficas.
Apesar disso, alguns personagens da história do Egito foram elevados à condição de divindades, pelo altíssimo grau de Sabedoria que possuíam, como Thot, Osíris, Ísis, etc.
Portanto, os 42 juízes do Tribunal do Karma são princípios naturais de organização psíquica e espiritual. São uma proteção natural para que o ego animal não invada os planos superiores de consciência.
No livro dos mortos do Antigo Egito, encontramos a descrição do momento em que o iniciado se apresenta diante de Osiris e declara sua “Confissão Negativa”, contida no Papiro de NU.
“O capítulo CXXV consiste em três partes: a Introdução, a Confissão Negativa e um texto para rematar. Dizia-se a introdução quando o falecido chegava à Sala da Dupla Maat; a Confissão Negativa era recitada por ele perante os quarenta e dois deuses que estavam na Sala; e o texto final quando ele chegava ao mundo inferior.”

Descrição da lâmina: Barbado e ostentando a coroa “branca”, de pé num santuário, cujo teto é encimado por uma cabeça de falcão e por uraei, o deus Osiris empunha os emblemas costumeiros de soberania e domínio. Atrás dele está a deusa Ísis e, à sua frente, sobre uma flor de loto, os quatro filhos de Horus, Questa, Hapi, Tuamutef e Quebsenuf.

Descrição da lâmina: o falecido e sua esposa[2] aparecem em pé, com as mãos erguidas em sinal de adoração.
Texto: o seguinte será dito quando o intendente da cada do intendente do selo, NU, triunfante, aparecer na sala da Dupla Maat, de modo que seja alijado de todo e qualquer pecado que tenha cometido e contemple o rosto dos deuses. O Osíris NU, triunfante, diz: “
“Homenagem a ti, ó Grande Deus, Senhor da dupla Maat, vim ver-te ó meu Senhor, e cheguei até aqui para contemplar tua beleza. Conheço-te, conheço o teu nome, e conheço os nomes dos quarenta e dois deuses que estão contigo na Sala da dupla Maat, que vivem como carcereiros de pecadores e se alimentam do sangue destes últimos no dia em que a vida dos homens são tomadas em consideração na presença do deus Un-nefer; na verdade ‘Recti-merti-neb-Maati’ (irmãs gêmeas com dois olhos, senhoras da dupla Maat) é o teu nome. Na verdade vim a ti e trouxe-te Maat (justiça e verdade), e destruí a maldade para ti. Não fiz mal à humanidade. Não oprimi os membros da minha família, não pratiquei o mal em lugar da justiça e da verdade. Não tenho conhecido homens sem valor. Não tenho praticado o mal. Não tenho feito que a primeira consideração de cada dia seja a de mandar realizar para mim um trabalho excessivo. Não apresentei meu nome para exaltação de honrarias. Não maltratei criados. Não desprezei a Deus.  Não fraudei o oprimido de sua propriedade[3]. Não fiz o que os deuses abominam. Não fui causa de que o chefe prejudicasse os servo. Não causei dor. Não fiz nenhum homem sofrer fome. Não fiz ninguém chorar. Não pratiquei homicídio. Não dei ordem para que nenhum homicídio fosse praticado em meu proveito. Não infligi sofrimento ao gênero humano. Não fraudei os templos das suas oblações. Não roubei os bolos dos deuses. Não furtei os bolos oferecidos às almas imortais. Não forniquei. Não me polui nos lugares sagrados do deus da minha cidade, nem subtraí coisa alguma do alqueire. Não acrescentei nem roubei com fraude terra nenhuma. Não me apossei dos campos de outrem. Não mexi nos pesos da balança para enganar o vendedor. Não li errado o que indicava a balança para enganar o comprador. Não tirei o leite da boca das crianças. Não levei o gado que estava em seus pastos. Não peguei no laço os pássaros de penas das coutadas dos deuses. Não peguei peixe com isca de feita de peixe da sua espécie.  Não represei água no tempo em que ela devia correr. Não sangrei nenhum canal de água corrente. Não apaguei o fogo (ou luz) que devesse arder. Não infringi os tempos[4] de oferecer as oblatas seletas de comida. Não espantei o gado da propriedade dos deuses. Não repeli Deus em suas manifestações. Sou puro. Sou puro. Sou puro. Minha pureza é a pureza do grande Benu que está na cidade de Suten-henen (Heracleópolis), pois eis que sou o nariz do Deus dos ventos, que faz toda a humanidade viver no dia em que o Olho de Rá está cheio em Anu (Heliópolis) no fim do segundo mês da estação Pert (isto é, a estação de crescer) na presença do divino senhor da terra. Vi o Olho de Rá quando estava cheio em Anu e, portanto, não me aconteça nenhum mal nesta terra e na Sala da dupla Maat, pois sei os nomes dos deuses que ali estão e que são os seguidores do grande deus”.

A Confissão Negativa
Descrição da lâmina: A Sala da dupla Maat, o que quer dizer, a Sala das deusas Ísis e Néftis, que simbolizam a Justiça e a Verdade; neste lugar estão sentados, ou em pé, quarenta e dois deuses, a cada um dos quais o falecido precisa dirigir uma declaração negativa determinada. Em cada extremidade vê-se a metade de uma porta de dois batentes, uma chamada NEB-MAAT-HERITEP-RETUI-F e a outra, NEB-PEHTI-QUESU-MENENET. No centro do teto, que exibe uma cornija de uraei, típicos da divindade, e penas, símbolo de MAAT, está sentado um nume, pintado de verde azulado, com as mãos estendidas, a direita sobre o Olho de Horus, e a esquerda sobre uma lagoa. Na extremidade da Sala vêem-se quatro vinhetazinhas, em que estão pintadas:

1. As deusas Maat, sentadas em seus tronos, empunham um cetro com a mão direita e o emblema da vida com a mão esquerda.
2. O falecido, vestido de branco, em pé diante de Osíris, ergue as mãos em sinal de adoração.
3. Uma balança que tem o coração, símbolo da consciência do falecido, num dos pratos, e a pena, emblema da Justiça e da Verdade, no outro. O deus Anúbis testa o fiel da balança, e perto dele está o monstro Am-met[5].
4.  Thot, com cabela de Íbis, sentado em um pedestal em forma de pilono, pinta uma grande pena de Maat. No papiro de Anhai os deuses estão sentados em fila dupla; cada qual ostenta a cabeça que o caracteriza, e quase todos usam a pena de Maat.

Texto: o escriba Nebseni, triunfante, diz:
1 – “Salve, ó tu, espírito que marchas a grandes passadas e que surges em Anu (Heliópolis), escuta-me! Eu não cometi iniqüidade.
2 – Salve, ó tu, espírito que te manifestas em Ker-ahá e cujos braços estão rodeados de um fogo que arde! Eu não roubei com violência.
3 – Salve, ó tu, divino Nariz (Fenti), que vens de Quemenu (Hermópolis), não fiz violência a homem algum.
4 – Salve, ó tu, que comes sombras, que vens do sítio onde o Nilo aparece, não roubei.
5 – Salve, Neha-hau, que vens de Re-stau, não matei homem nem mulher.
6 – Salve, ó tu, duplo deus-Leão, que vens do céu, não aligeirei o alqueire.
7 – Salve, ó tu, cujos olhos são como pederneiras, que vens de Sequem (Letópolis), não agi com fraude.
8 - Salve, ó tu, Chama, que vens como vais, não furtei as coisas que pertencem a Deus.
9 - Salve, ó tu, Esmagador de Ossos,  que vens de Suten-henen (Heracleópolis), não proferi falsidades.
10 - Salve, ó tu, que fazes forte a chama para a cera, que vens de Hetca-Pta (Mênfis), não furtei comida.
11 - Salve, Querti (isto é, os dois manaciais do Nilo), que vindes de Amentet (Amenti), não proferi palavras más.
12 - Salve, ó tu, cujos dentes brilham como o sol, que vens de Ta-she (isto é, Faium), não ataquei homem algum.
13 - Salve, ó tu, que consomes sangue, que vens da casa do abate, eu não matei os animais do templo.
14 - Salve, ó tu, que consomes as entranhas de pecadores, que vem da câmara mabet, não defraudei.
15 - Salve, ó tu, deus da Justiça e da Verdade, que vens da cidade da dupla Maat, não saqueei as terras aradas.
16 - Salve, ó tu, que andas para trás, que vens da cidade de Bast (Bubastis) , nunca me intrometi em assuntos alheios para criar discórdia.
17 - Salve, Aati, ó tu, que vens de Anu (Heliópolis), não pus minha boca em movimento contra nenhum homem.
18 - Salve, ó tu, que és duplamente mau (espírito Tatuf), que vens do nomo de Ati, não dei vazão à cólera em relação a mim sem causa.
19 - Salve, ó tu, serpente Uamenti, que vens da casa da matança, não conspurquei a mulher de homem algum.
20 - Salve, ó tu, que velas sobre o que é trazido para ele, que vens do Templo de Ansu, não pequei contra a pureza.
21 - Salve, chefe dos divinos Príncipes, que vens da cidade de Nehatu, não despertei medo em ninguém.
22 - Salve, Quemi (isto é, Destruidor), que vens do Lago de Caui, não violei tempos e estações sagradas.
23 - Salve, ó tu, que ordenaste a fala, que vens de Urit, não me entreguei à cólera.
24 - Salve, ó tu, Criança, que vens do Lago de Hec-at, não me fiz de surdo às palavras da Justiça e da verdade.
25 - Salve, ó tu, que dispões da fala, que vens da cidade de Unes, não provoquei lutas.
26 - Salve, Basti, que vens da cidade Secreta (que apareces nos Mistérios), não fiz nenhum homem chorar.
27 - Salve, ó tu, Her-Fy-MHa-Tep-Fy-Ert-Fy-Dbw-Tep-F (cujo rosto está voltado para trás), que vens da Residência, não cometi atos de impureza, nem me deitei com homens.
28 - Salve, Perna de Fogo, que vens de Akhekhu, não comi meu coração (isto é, “eu não destruí meu coração” ou “não perdi a calma e me zanguei”).
29 - Salve, Quenemti, que vens da cidade de Kenemet, não maltratei homem algum (ou não amaldiçoei ninguém).
30 - Salve, ó tu, que trazes tua oferenda, que vens da cidade de Sau (Saís), não agi com violência.
31 - Salve, ó tu, Nebt-Heri (isto é, senhor dos rostos ou aquele cujas faces são múltiplas), que vens da cidade de Tchefet , não agi precipitadamente.
32 - Salve, ó tu, que dás conhecimentos, que vens de Unth, não faltei com o respeito aos deuses.
33 - Salve, ó tu, senhor dos dois chifres, que vens de Santiú, não multipliquei minha fala em demasia.
34 - Salve, ó tu, Nefer-Tem, que vens de Hetca-Ptá (Mênfis), não agi com fraude, nem obrei com perversidade.
35 - Salve, ó tu, Tem-Sep, que vens de Tetu (Djedu), não amaldiçoei o rei.
36 - Salve, ó tu, cujo coração trabalha, que vens da cidade de Debti, eu jamais poluí as águas.
37 - Salve, Ahi da água, que vens de Nu, não tornei soberba a minha voz.
38 - Salve, ó tu, Hed-Rexty, que dás ordens à humanidade (que ordenas aos iniciados), que vens de Zsat (Sau), eu não maldisse o deus.
39 - Salve, Neheb-Nefert, que vens do Lago de Nefer, não procedi com insolência.
40 - Salve, Nehebe-Kau, que vens da tua cidade (caverna), não tenho buscado distinções (ou “não agi com desdém”).
41 - Salve, ó tu, Tseru-Tep (isto é, cuja cabeça é sagrada), que vens da tua habitação (santuário), não aumentei minha riqueza, a não ser com as coisas que são justamente minhas.
42 - Salve, ó tu Ena-F (que trazes teu próprio braço), que vens de Auquert (mundo inferior), não desprezei o deus que está em minha cidade.

Bibliografia:
- BUDGE, Sir E. A. WALLIS, O livro egípcio dos mortos. 13ª edição. Pensamento-Cultrix. 2010. 567 pp.
- SELEEM, RAMSES, O livro dos mortos do antigo Egito. Tradução: Ligia Capobianco. 2ª edição. São Paulo. Madras. 2005. 175 pp.
- Bíblia de Jerusalém, Nova edição revista e ampliada. São Paulo. Paulus. 20/08/2002.


[1] Povo que habitou o Monte Hebron.
[2] A Ísis particular, representação física da Mãe Divina.
[3] Variante, “não causei sofrimento, não causei aflição.”
[4] Variante: “não fraudei os deuses das suas oblatas seletas de comida”.
[5] O demônio com cara de crocodilo. Representa o tempo, o renascimento como pessoa humana, retorno ao vale do samsara. Se o iniciado não for aprovado no julgamento, será devorado por Am-met, isto é, deverá renascer. 

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